domingo, 26 de dezembro de 2010

Inútil Tejo das Três da Tarde

Estou a andar de patins há 1 hora. Cansei-me, sinto uma dormência nos pés, nas pernas, que me sobe pelo corpo todo até à cabeça. É mais do que um sonho, a sensação de ser tão leve que o vento me pode levantar no ar e fazer voar sobre o rio.

Breve descrição do Tejo:
Sujo, imundo dos dejectos dos seus habitantes. Já não é a 1ª vez, e não será a última.
O branco do cais contrasta profundamente com a água castanha do rio. Por vezes penso como pode este rio ser poético. Depois percebo. Excepto a parte mais próxima das águas o muro é branco e duro. Algumas atracas ainda têm as amarras centenárias dos barcos que outrora lá atracaram.
Várias tonalidades. É uma pintura existencialista.
turbulência, ligeira, mas há. Não percebo porque é que as gaivotas continuam sempre no mesmo sítio, não estão a fazer nada. São animais-bibelot, ou autómatos animados que reagem apenas ao som de outra gaivota ou ao rumejar de um peixe no fundo do mar. De vez em quando grasnam.

A luz é amarga e amarela. O sol atrás de mim dá tons estranhos à maré. Ela move-se debaixo da maré, uma ninfa, sufocada pela saudade da pureza, num grito surdo pelo Vento do sul.

Um cacilheiro regressa da outra banda. Vai atracar no Cais do Sodré, a uns 200 metros de mim. Queria que fosse uma tarde de verão.

p.s. - sou livre.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Viajar... mas só porque sim

Não é um desejo frívolo de alguém que acha que é a fugir que se resolvem os problemas. Não. É uma necessidade física, algo de quente, urgente, que corre nas veias e não avisa do perigo que seria se todos os dias, a vida nos pusesse amarras de ferro inquebráveis, que nos impedissem. Impedissem de pensar para além da "caixinha mágica", como diria a minha avó ao referir-se à televisão. Que nos impedissem de achar que já não é bom viver a mesma vida de sempre, ou de achar que os nossos sonhos começam a bater às portas da consciência, desejosos que alguém lhas abra e lhes dê um guia de percurso (pois não serão apenas esses, os sonhos concretizáveis, aqueles que vale a pena sonhar?).

Comecei hoje a desfrutar de uma das minhas prendas de natal: O Mundo é Fácil - Aprenda a Viajar com Gonçalo Cadilhe. Desde que acordei, eram umas 11 horas, que ainda não consegui largar o livro. Lá fiz o sacrifício de sair da cama, lavar os dentes e vestir-me para o almoço de Natal, mas de resto todas as fibras do meu corpo me puxam na direcção do livro. E não é feitiço...


Sendo sincera, já tinha uma certa veia viajante, mas nunca me deu para fazer planos a sério: viagens à Argentina, ao México, ao Peru, à Índia... eram tudo sonhos, fantasias mal-concebidas. Nunca as levei muito a sério. Nem nunca pensei que pudesse, no espaço de uns meses, fazer-me à estrada (leia-se aos carris) e descobrir a Europa próxima de mim. Claro que para alguém que vive em Portugal, aquilo que considero "próximo de mim" é um espaço relativamente limitado, mas mesmo assim já é um começo.

Quem ler este post tem de ir urgentemente à livraria mais próxima comprar o livro. Estou a falar a sério. Se ainda não eras um aficcionado por viagens e escapadinhas ao estrangeiro, então garanto-te que com esta obra vais tornar-te um autêntico vagabundo dos trilhos. Isto porque não estamos a falar de um livro indicado para turistas, mas para viajantes. Quando o leres percebes imediatamente a diferença.

Não vais encontrar lá indicações dos melhores hotéis, das melhores praias e restaurantes. Vais encontrar:
- dicas de sobrevivência em locais onde o hospital mais próximo fica a 20 quilómetros numa zona sem transportes
- como poupar dinheiro sem prescindir de nenhum destino escolhido
- questões estranhíssimas, tu sabes, aquelas que nunca niguém quer admitir que tem mas que acabam por ser decisivas na maneira como a tua viagem se desenrola
- testemunhos de viajantes experientes e os seus conselhos para o pessoal jovem e com pouco dinheiro.

Além disso, é um livro para ficar em casa e nunca para levares contigo na viagem. O autor proíbe-te, e nesse caso é melhor dar ouvidos.

Na minha opinião, o mais importante que o livro nos ensina (em princípio), é que sonhar não deve ser apenas construir castelos no ar. Os nossos sonhos, desejos, aspirações, principalmente os relacionados com viagens ou empreendimentos estão ao nosso alcance apenas se lutarmos por eles, formos preserverantes e não desistirmos perante um "não" do Destino. Mesmo para quem acredita, nestas situações o melhor mesmo é deixar o Karma na gaveta e aceitar (temporariamente, claro, apenas como um exercício mental) que o nosso destino são as nossas escolhas.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Devo querer chegar a algum lado

Os ciganos são discriminados. Toda a gente sabe. Toda a gente aceita.

Os pretos são discriminados. Toda a gente sabe. Há quem aceite.

Os portugueses... discriminam. Toda a gente sabe. Toda a gente diz que não.

Onde quero chegar? A lado nenhum. Os media distorcem tudo, a imprensa, a televisão, fazem questão de mencionar nos cabeçalhos dos jornais e nos rodapés das notícias a etnia dos criminosos... como se isso fosse relevante em todos os casos! Como se um cigano que rouba isoladamente numa loja fosse indício de que todos os ciganos roubam nas lojas. Como se, por um preto andar armado numa escola, todos os pretos andam armados nas escolas. Como se lá porque um português foge aos impostos... não significa que todos fujam! Mas as pessoas não se importam. Não. Até é mais prático, assim desconfia-se logo de TODOS os ciganos, de TODOS os pretos... e da maior parte dos portugueses, porque afinal de contas todos nós sabemos que somos má raça. Só que há quem não admita. Mas todos sabem. Porém não o dizem com medo que os chineses lhes vão lá a casa roubar (oh não, espera isso são os ciganos).

Não há ciganos bons e ciganos maus. Há ciganos rígidos e ciganos liberais. Há ciganos violentos e ciganos pacíficos.

Não há pretos bons e pretos maus. Há pretos perigosos, tal como há portugueses perigosos que vivem em bairros sociais em ambientes degradados, num contexto privado de oportunidades para fazerem melhor, e pretos simpáticos.

Não há portugueses bons e portugueses maus. Há portugueses... bem, uns estúpidos e outros menos estúpidos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Window pain

Seguidamente, Vera abriu lentamente a porta, aquela que dava para a mente em branco do cão que caiu da janela aberta. “Window Pain”, disse ela. O cão não respondeu, observou-a com uns olhos brancos sem fim nem principio, ela viu um precipício lá dentro. Fugiu.

domingo, 31 de outubro de 2010

Inventa-se a verdade a todo o custo...

O jornalismo é importantíssimo. Não só porque representa, como nenhum outro meio de comunicação, o direito de todos os cidadãos à informação num país democrático, mas também porque, consequentemente, é através dele que vemos o Mundo. Basta pensares como seria os dias sem o jornal das 8, o Diário de Notícias, a Visão, o gratuito Metro... aqueles jornais e revistas nos quais muitas vezes pegamos e nem sabemos muito bem porquê, só para não estarmos de mãos a abanar ou para tornar uma viagem de transportes públicos menos monótona, à falta do I-pod ou do telemóvel; a verdade é que damos por nós a consumir informação, tornando-nos parte integrante do planeta no qual vivemos, pelo simples facto de ler uma coluna ou olhar para um cartaz publicitário...

No entanto, a maneira como certas plataformas de informação (cite-se a TVI, entre outras) distorcem e polarizam a informação para um determinado grupo de pessoas, até já não ser possível distinguir onde começa e onde acaba a informação decente, é revoltante. Algumas notícias nem parecem notícias: de tão distorcidas que foram parecem-se mais com opiniões saloias que qualquer pessoa podia dar. Isto faz-me pensar em muita coisa, principalmente na questão da liberdade de expressão. Ela tem de existir, mas tem de haver um critério. O que se está a dar às pessoas não pode ser falsa informação, ou informação distorcida da maneira que bem apetece aos apresentadores e aos jornalistas. Quando eu vejo o telejornal não estou à procura de saber a opinião do Pedro Pinto ou da Manuelinha (salvo seja), pelo contrário espero que me tratem como uma pessoa com opiniões próprias que sabe fazer, caso queira, a análise do que fulano tal disse.

Para mim, o cúmulo é a TVI ter um comentador assumidamente do PSD que até já foi presidente do partido! Não só como pessoa de esquerda, mas como espectadora de canais de informação, dá-me náuseas a propaganda feita ao Partido Social Democrata aos olhos de quem queira ver, por uma estação televisiva que tinha por obrigação entregar material de qualidade aos portugueses. Não tenho pena nenhuma da Manuela Moura Guedes, eu que nem vou muito à bola com o Sócrates, mas há que admitir que o jornal da noite de 6ª-feira era uma vergonha. "Uma caça ao homem". Infelizmente, não se cortou o mal pela raiz e hão-de vir mais como ela fazer o papel de velhos do Restelo... triste sorte a minha ter de andar por cá para ver isto (sigh).

Até lá, gostava de poder oferecer ouro e prata a quem deixasse de ver o Jornal Nacional. Fica a dica.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Breves momentos

Hoje foi frustrante. Podias ter-me avisado, queria tanto estar contigo um bocado, abraçar-te e sentir a tua respiração na minha pele, o teu abraço sufocante à minha volta, os teus beijos carinhosos e ardentes nos meus ombros e pescoço. Espero sempre pela hora do dia em que vou poder ouvir a tua voz querida e ver o teu sorriso lindo que me faz sorrir de volta... a altura em que posso voltar a olhar bem fundo nos teus olhos, daquela cor que toda a gente tem, mas que mesmo assim consegues tornar únicos, com esse teu "je ne sais quois", esse teu jeito especial que me arrepia o corpo e me aquece o coração. A altura em que me beijas de volta e sinto o calor, a tua língua a enrolar-se na minha, e eu suspiro e deixo-me levar. Deliro quando passo a mão no teu cabelo despenteado, preto como carvão, delicioso, lindo.
O melhor começa quando nos afastamos, após o primeiro beijo e olhamos um para o outro a sorrir, sem jeito e sem saber o que fazer a seguir... mas tu sabes. E agarras a minha mão, num entrelaçar suave de dedos, e eu acaricio a tua pele macia das costas das mãos, e a pele menos macia, mas tão boa, das palmas, e fecho os olhos por breves momentos que parecem passar a voar, mas que talvez sejam mais uma partida do tempo. Na vida tudo o que é bom e nos delicia parece passar a correr, ou a voar como dizem. Para mim não. Para mim o tempo é apenas mais um enigma da vida, que só encurta e engrandece segundo a nossa percepção distorcida da vida.
Era mais fácil e menos doloroso se as horas não dependessem do uso, bom ou mau, que lhes damos. Mas não é assim. Nem o tempo escapa à corrupção humana. E contigo as horas parecem segundos.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pai

Pensei que ser pai era amar incondicionalmente. Era pôr de parte os interesses próprios em favor dos do filho. Era compreender a humanidade, as emoções da criança que criou nos braços, as suas necessidades e afectos. Sempre pensei que ser pai... era ser como a minha mãe. Mas agora a mãe já não está cá. Já não habita a mesma dimensão, sensível, corpórea, que eu, já não a posso tocar, sentir, ouvir, pelo menos não conscientemente. Agora precisava mesmo do meu pai. Era o último suporte, a única certeza absoluta que tinha. E ele vai-se. Retira-se, de livre e espontânea vontade, como se escorraçasse um cão que o incomoda. É engraçado como o simbolismo se aplica tão bem na vida quotidiana, kitsch?, não, real.
Mais que nunca preciso de estabilidade na minha vida. Preciso de amor, carinho, compreensão, e ele só se preocupa em que eu vá para ele. Mas que merda é esta, um pai que só se preocupa em ter aquilo que quer a qualquer custo, independentemente da vontade do filho? Ele desrespeitou-me como nunca antes, disse que se fosse preciso arrastava-me para fora de casa, mandou-me fazer as malas mas não fui, disse que eu não sabia cozinhar apesar de cozinhar melhor do que ele, que não sabia fazer a lida da casa apesar de limpar mais numa semana do que ele limpa num mês, e aspirou-se a que devia ser ele a ensinar-me tudo isto, e ainda mais alguma coisa. "O que é que me vais ensinar pai? A arte da frieza? Da manipulação? Do egoísmo? De espezinhar, humilhar e usar as pessoas como instrumentos no teu jogo de obter aquilo que queres? Quem sabe, não me corre já nos genes...". Insultou os meus avós, a minha mãe. Tive vontade por momentos de lhe partir a cara toda, bocado a bocado, lentamente. Mas não o fiz. E não o farei, e não permitirei que ninguém o faça porque a vingança da vida vai ser tão, mas tão má que nada do que eu lhe possa fazer irá conseguir superar o que lhe vai acontecer. Os maus, mais cedo ou mais tarde, têm sempre o que merecem. Mesmo que não se saiba, é certo que sim.
É triste, e não desejo a ninguém, perder um pai e uma mãe ao mesmo tempo. Mas apesar de tudo ele continua a ser meu pai, e tenho medo de acordar amanhã e de ele também já não estar lá. Não sei se aguentava. Bom ou mau, é meu pai, e esteve presente em situações importantíssimas da minha vida. Tenho memórias (o kitsch), que são o que me mantém agarrada à ideia de que posso perdê-lo a qualquer minuto, aliadas à incerteza do futuro que paraliza. Mas não pode. Não podemos temer o que não conhecemos porque senão nunca andávamos para a frente. Gosto de escrever porque me liberta. Sinto-me viva, racional, coerente e que tenho valor. Não vou parar aqui. Tenho de viver. Tenho de ser forte, ou de fingir e de me enganar a mim própria dizendo que sou mas não sendo, mas tem de ser. Tenho de seguir. O caminho é para a frente, e para a frente andarei. Com ou sem pai, com ou sem mãe, tenho de conseguir.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Olá, sou um bocado de carne à venda. Quem quer?



Quero ser autêntica. Eu sou uma mulher, e recuso ser considerada inferior num mundo cheio de homens que me ignoram até eu resolver aparecer com um decote até ao umbigo e toda pintada para eles me acharem mais atraente. Porque um ser humano é mais do que um bocado de carne à venda. Eu sou carne, osso, mas também tenho espírito e cabeça para pensar. E penso bem. Penso tão bem que nenhum homem ou mulher se atreverá alguma vez a julgar-me pela minha aparência. Não à minha frente. Tenho o direito de vingar nas mesmas condições e pelos mesmos meios que homens feios e sem maneiras o fazem. Aliás, ainda tenho mais, porque tenho maneiras. Se sou bonita ou feia, isso não devia importar. Mas já que importa então eles também deviam ser impedidos de subir na vida caso não fossem bonitos e não tivessem bom corpo.

Vinte e Cinco

Ontem gritou-se Liberdade. Ontem bradou-se "Fascismo Nunca Mais". Ontem, já passou. Hoje é 26 de Abril. Já ninguém se lembra.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pare, Escute, Olhe... e mexa-se

... Porque a linha também é Tua. Hoje fomos ver (eu e a minha turma do 11º) este fantástico documentário, de tirar o fôlego a qualquer português que conheça a realidade do interior transmontano e da desertificação crescente dos espaços afastados do litoral.
Confesso, achei que apesar do tema interessante iria apanhar uma surpresa negativa porque estes documentários têm tendência para serem demasiado experimentais e pouco digeríveis, mas acabou por superar qualquer expectativa.

Faz pensar. As soluções são tão óbvias, estão mesmo ali, à frente do nosso nariz, e nós quase nunca damos por elas. Porque estamos mais preocupados em seguir fanaticamente o progresso europeu e os avanços tecnológicos do resto do mundo, de tal forma que nem paramos para pensar que talvez um olhar na direcção oposta fizesse toda a diferença.



Jorge Pelicano olha na direcção exactamente oposta da que poderíamos supor. Ele submete-se à caminhada por toda a linha do Tua e seus apeadeiros, agora abandonados e decrépitos, e entrevista as populações locais e circundantes de forma a conhecer a realidade destas pessoas modestas que só querem uma maneira de ir à outra banda comprar e vender legumes, ou simplesmente dar uma voltinha enquanto esperam pela morte que, sabem, não há-de tardar.

Paralelamente, vemos antigas e recentes reportagens a antigos e recentes governantes do país (cada um melhor que o outro...), em que as mudanças de perspectiva são revoltantemente chocantes e demonstram a hipocrisia de que é feita a política nacional. De facto, às vezes pergunto-me: quanto mais tempo conseguiremos aguentar sem uma revolução?

sábado, 17 de abril de 2010

Professores e Individualismo

Os professores não percebem que o papel que desempenham na sociedade é muito mais do que passar cultura e formação teórica: o papel deles é educar e fornecer as ferramentas necessárias aos futuros construtores do Novo Mundo para que não cometam os mesmos erros que a geração deles cometeu. O que falta é consciência social, isto é, ter noção de que os nossos actos e as nossas atitudes importam para que está ao nosso lado. O que falta é combater o individualismo.

domingo, 11 de abril de 2010

Sou mulher, não escrava do homem


"Eu tenho uma interpretação bastante diferente daquela que é a mais comum e também da menos comum, como é o caso desse artigo, muito inteligente e bem escrito. Porém o que eu penso sobre a invisibilidade da homossexualidade feminina, não é por uma mulher ser lésbica que se torna invisível mas porque a invisibilidade da mulher como mulher na sociedade andocrática, machista, dominadora e falocrática é a realidade de todas as mulheres.
Todas as mulheres neste Sistema são invisíveis.Só o não são as mulheres que correspondem ao imaginário masculino, as mulheres objecto, as mulher insufladas de silicone, concebidas e criadas por eles, NAS SALAS DE OPERAÇÃO, na publicidade, nas passerelles, nos filmes etc."


Por Rosa Leonor Pedro, feminista acérrima por quem nutro o mais profundo respeito. Retirado do blog A Alta Sacerdotisa que recomendo a toda a gente mesmo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Família Portuguesa


Não sei se já repararam, mas algumas farmácias fornecem uma revista chamada A Família Portuguesa que de revista familiar só tem mesmo o nome.

Sinceramente não percebo. "Encontrei um modo natural de controlar o meu colestrol" : comprimidos. "Um impulso natural na sua vida sexual" : comprimidos e vitaminas. "Perdi 12 kgs na cintura e nas ancas!" : exercício? Nem pensar. Comprimidos e dietas absurdas. Na verdade há poucas ou nenhumas referências a exercício físico e a  hábitos alimentares saudáveis nesta revista que se diz d'A Família Portuguesa, e por isso sinto-me insultada e reduzida ao pensar nos desesperados que vão a correr comprar estas merdas, e nesta sociedade capitalista e ridícula que promove a veneração do Ser Perfeito quando é mais do que óbvio que esse Ser apenas existe com recurso ao Photoshop e à imaginação fértil de uns quantos fúteis que reinam nas passereles e nos Grammys...

Ouçam lá: eu sou baixinha, branca, cheia de sardas, a minha barriga faz duas dobras quando me baixo, as minhas coxas abanam mais do que gelatina, tenho pés de hobbit, nariz de caturra, olheiras até ao umbigo e sou peluda, e sabem que mais? SOU FELIZ. Porque tenho uns olhos e um cabelo bonitos e uma personalidade espectacular, amigos especiais que podem confirmar tanto os aspectos positivos como os negativos já falados e uma famelga super estranha que adoro. É tempo de esquecermos a Utopia, o consumismo, a inveja e a adoração pelas top models, as dietas que não levam a lado nenhum e os tratamentos anti-naturais que vemos publicitados diariamente em jornais, revistas, anúncios televisivos e cartazes. É tempo de olharmos um gordo da mesma maneira que um magro, de reconhecermos o mérito ao interior antes de o fazermos ao exterior... É tempo de desligarmos o interruptor do Preconceito e de ligarmos o da Aceitação, pelo que somos e pelo que os outros são, pelo que é Natural e Puro e não pelo que é artificial e falso.

NOTA: espero fazer brevemente um texto que aprofunde mais a temática da publicidade e do seu papel no nosso dia-a-dia =)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Estio - Um Olhar

Tenho saudades do Verão. Saudades do sol que aquece em vez de arrefecer, ainda mais, os nossos corpos latinos eternamente desabituados do gelo do Inverno. Saudades dos escaldões e da pele queimada dos camionistas que acenam às raparigas de calções, na rua. Saudades da praia, daquela imensa planície de aveia cortada rente ao chão, transformada em pó mágico e brilhante que se cola à pele. Saudades do mar, dos mergulhos, das chapas e dos risos irreais dos amigos, que juntos rejubilam de felicidade, rejubilam com a Luz. Saudades de secar na toalha e sentir as gotas de água salgada a escorrerem do meu cabelo para o meu rosto. Saudades de ir embora, e voltar na manhã seguinte. Saudades dos tops, das t-shirts, dos vestidos e dos bikinis. Saudades das raparigas mais bonitas que eu e dos rapazes bronzeados. Saudades das férias, das tardes passadas no cinema, em casa ou na Baixa. Saudades das coisas que nunca foram, das pessoas que nunca nasceram, das noites que nunca amanheceram. Saudades dos momentos nos blocos, deitados na relva, conversando ou simplesmente trocando sorrisos e olhares. Saudades de parar debaixo do toldo de uma cafetaria e apreciar a sombra, tão bem vinda. Saudades da auto-estrada a alta velocidade, do alcatrão a ferver, quase derretendo, e das ondas de calor que se vêem ao longe, oscilando provocadoramente. Saudades da brisa do fim de tarde, que docemente sopra no meu rosto como o beijo indeciso de uma donzela renascentista ao seu amado. Saudades de respirar o ar saturado, quente, que entra para os pulmões e faz suster a respiração. Saudades da roupa colada ao corpo, da húmida transpiração, do corpo que protesta do intenso calor… da mente que, inconscientemente, anseia por um novo Inverno. Saudades, por fim, do Inverno que ainda não passou, pois sem ele o verão nada significaria. O Inverno é um estado meteorológico, mas o verão… o verão é quem nós somos. Eu sou o Verão.