segunda-feira, 26 de abril de 2010

Olá, sou um bocado de carne à venda. Quem quer?



Quero ser autêntica. Eu sou uma mulher, e recuso ser considerada inferior num mundo cheio de homens que me ignoram até eu resolver aparecer com um decote até ao umbigo e toda pintada para eles me acharem mais atraente. Porque um ser humano é mais do que um bocado de carne à venda. Eu sou carne, osso, mas também tenho espírito e cabeça para pensar. E penso bem. Penso tão bem que nenhum homem ou mulher se atreverá alguma vez a julgar-me pela minha aparência. Não à minha frente. Tenho o direito de vingar nas mesmas condições e pelos mesmos meios que homens feios e sem maneiras o fazem. Aliás, ainda tenho mais, porque tenho maneiras. Se sou bonita ou feia, isso não devia importar. Mas já que importa então eles também deviam ser impedidos de subir na vida caso não fossem bonitos e não tivessem bom corpo.

Vinte e Cinco

Ontem gritou-se Liberdade. Ontem bradou-se "Fascismo Nunca Mais". Ontem, já passou. Hoje é 26 de Abril. Já ninguém se lembra.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pare, Escute, Olhe... e mexa-se

... Porque a linha também é Tua. Hoje fomos ver (eu e a minha turma do 11º) este fantástico documentário, de tirar o fôlego a qualquer português que conheça a realidade do interior transmontano e da desertificação crescente dos espaços afastados do litoral.
Confesso, achei que apesar do tema interessante iria apanhar uma surpresa negativa porque estes documentários têm tendência para serem demasiado experimentais e pouco digeríveis, mas acabou por superar qualquer expectativa.

Faz pensar. As soluções são tão óbvias, estão mesmo ali, à frente do nosso nariz, e nós quase nunca damos por elas. Porque estamos mais preocupados em seguir fanaticamente o progresso europeu e os avanços tecnológicos do resto do mundo, de tal forma que nem paramos para pensar que talvez um olhar na direcção oposta fizesse toda a diferença.



Jorge Pelicano olha na direcção exactamente oposta da que poderíamos supor. Ele submete-se à caminhada por toda a linha do Tua e seus apeadeiros, agora abandonados e decrépitos, e entrevista as populações locais e circundantes de forma a conhecer a realidade destas pessoas modestas que só querem uma maneira de ir à outra banda comprar e vender legumes, ou simplesmente dar uma voltinha enquanto esperam pela morte que, sabem, não há-de tardar.

Paralelamente, vemos antigas e recentes reportagens a antigos e recentes governantes do país (cada um melhor que o outro...), em que as mudanças de perspectiva são revoltantemente chocantes e demonstram a hipocrisia de que é feita a política nacional. De facto, às vezes pergunto-me: quanto mais tempo conseguiremos aguentar sem uma revolução?

sábado, 17 de abril de 2010

Professores e Individualismo

Os professores não percebem que o papel que desempenham na sociedade é muito mais do que passar cultura e formação teórica: o papel deles é educar e fornecer as ferramentas necessárias aos futuros construtores do Novo Mundo para que não cometam os mesmos erros que a geração deles cometeu. O que falta é consciência social, isto é, ter noção de que os nossos actos e as nossas atitudes importam para que está ao nosso lado. O que falta é combater o individualismo.

domingo, 11 de abril de 2010

Sou mulher, não escrava do homem


"Eu tenho uma interpretação bastante diferente daquela que é a mais comum e também da menos comum, como é o caso desse artigo, muito inteligente e bem escrito. Porém o que eu penso sobre a invisibilidade da homossexualidade feminina, não é por uma mulher ser lésbica que se torna invisível mas porque a invisibilidade da mulher como mulher na sociedade andocrática, machista, dominadora e falocrática é a realidade de todas as mulheres.
Todas as mulheres neste Sistema são invisíveis.Só o não são as mulheres que correspondem ao imaginário masculino, as mulheres objecto, as mulher insufladas de silicone, concebidas e criadas por eles, NAS SALAS DE OPERAÇÃO, na publicidade, nas passerelles, nos filmes etc."


Por Rosa Leonor Pedro, feminista acérrima por quem nutro o mais profundo respeito. Retirado do blog A Alta Sacerdotisa que recomendo a toda a gente mesmo.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Família Portuguesa


Não sei se já repararam, mas algumas farmácias fornecem uma revista chamada A Família Portuguesa que de revista familiar só tem mesmo o nome.

Sinceramente não percebo. "Encontrei um modo natural de controlar o meu colestrol" : comprimidos. "Um impulso natural na sua vida sexual" : comprimidos e vitaminas. "Perdi 12 kgs na cintura e nas ancas!" : exercício? Nem pensar. Comprimidos e dietas absurdas. Na verdade há poucas ou nenhumas referências a exercício físico e a  hábitos alimentares saudáveis nesta revista que se diz d'A Família Portuguesa, e por isso sinto-me insultada e reduzida ao pensar nos desesperados que vão a correr comprar estas merdas, e nesta sociedade capitalista e ridícula que promove a veneração do Ser Perfeito quando é mais do que óbvio que esse Ser apenas existe com recurso ao Photoshop e à imaginação fértil de uns quantos fúteis que reinam nas passereles e nos Grammys...

Ouçam lá: eu sou baixinha, branca, cheia de sardas, a minha barriga faz duas dobras quando me baixo, as minhas coxas abanam mais do que gelatina, tenho pés de hobbit, nariz de caturra, olheiras até ao umbigo e sou peluda, e sabem que mais? SOU FELIZ. Porque tenho uns olhos e um cabelo bonitos e uma personalidade espectacular, amigos especiais que podem confirmar tanto os aspectos positivos como os negativos já falados e uma famelga super estranha que adoro. É tempo de esquecermos a Utopia, o consumismo, a inveja e a adoração pelas top models, as dietas que não levam a lado nenhum e os tratamentos anti-naturais que vemos publicitados diariamente em jornais, revistas, anúncios televisivos e cartazes. É tempo de olharmos um gordo da mesma maneira que um magro, de reconhecermos o mérito ao interior antes de o fazermos ao exterior... É tempo de desligarmos o interruptor do Preconceito e de ligarmos o da Aceitação, pelo que somos e pelo que os outros são, pelo que é Natural e Puro e não pelo que é artificial e falso.

NOTA: espero fazer brevemente um texto que aprofunde mais a temática da publicidade e do seu papel no nosso dia-a-dia =)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Estio - Um Olhar

Tenho saudades do Verão. Saudades do sol que aquece em vez de arrefecer, ainda mais, os nossos corpos latinos eternamente desabituados do gelo do Inverno. Saudades dos escaldões e da pele queimada dos camionistas que acenam às raparigas de calções, na rua. Saudades da praia, daquela imensa planície de aveia cortada rente ao chão, transformada em pó mágico e brilhante que se cola à pele. Saudades do mar, dos mergulhos, das chapas e dos risos irreais dos amigos, que juntos rejubilam de felicidade, rejubilam com a Luz. Saudades de secar na toalha e sentir as gotas de água salgada a escorrerem do meu cabelo para o meu rosto. Saudades de ir embora, e voltar na manhã seguinte. Saudades dos tops, das t-shirts, dos vestidos e dos bikinis. Saudades das raparigas mais bonitas que eu e dos rapazes bronzeados. Saudades das férias, das tardes passadas no cinema, em casa ou na Baixa. Saudades das coisas que nunca foram, das pessoas que nunca nasceram, das noites que nunca amanheceram. Saudades dos momentos nos blocos, deitados na relva, conversando ou simplesmente trocando sorrisos e olhares. Saudades de parar debaixo do toldo de uma cafetaria e apreciar a sombra, tão bem vinda. Saudades da auto-estrada a alta velocidade, do alcatrão a ferver, quase derretendo, e das ondas de calor que se vêem ao longe, oscilando provocadoramente. Saudades da brisa do fim de tarde, que docemente sopra no meu rosto como o beijo indeciso de uma donzela renascentista ao seu amado. Saudades de respirar o ar saturado, quente, que entra para os pulmões e faz suster a respiração. Saudades da roupa colada ao corpo, da húmida transpiração, do corpo que protesta do intenso calor… da mente que, inconscientemente, anseia por um novo Inverno. Saudades, por fim, do Inverno que ainda não passou, pois sem ele o verão nada significaria. O Inverno é um estado meteorológico, mas o verão… o verão é quem nós somos. Eu sou o Verão.