terça-feira, 6 de abril de 2010

Estio - Um Olhar

Tenho saudades do Verão. Saudades do sol que aquece em vez de arrefecer, ainda mais, os nossos corpos latinos eternamente desabituados do gelo do Inverno. Saudades dos escaldões e da pele queimada dos camionistas que acenam às raparigas de calções, na rua. Saudades da praia, daquela imensa planície de aveia cortada rente ao chão, transformada em pó mágico e brilhante que se cola à pele. Saudades do mar, dos mergulhos, das chapas e dos risos irreais dos amigos, que juntos rejubilam de felicidade, rejubilam com a Luz. Saudades de secar na toalha e sentir as gotas de água salgada a escorrerem do meu cabelo para o meu rosto. Saudades de ir embora, e voltar na manhã seguinte. Saudades dos tops, das t-shirts, dos vestidos e dos bikinis. Saudades das raparigas mais bonitas que eu e dos rapazes bronzeados. Saudades das férias, das tardes passadas no cinema, em casa ou na Baixa. Saudades das coisas que nunca foram, das pessoas que nunca nasceram, das noites que nunca amanheceram. Saudades dos momentos nos blocos, deitados na relva, conversando ou simplesmente trocando sorrisos e olhares. Saudades de parar debaixo do toldo de uma cafetaria e apreciar a sombra, tão bem vinda. Saudades da auto-estrada a alta velocidade, do alcatrão a ferver, quase derretendo, e das ondas de calor que se vêem ao longe, oscilando provocadoramente. Saudades da brisa do fim de tarde, que docemente sopra no meu rosto como o beijo indeciso de uma donzela renascentista ao seu amado. Saudades de respirar o ar saturado, quente, que entra para os pulmões e faz suster a respiração. Saudades da roupa colada ao corpo, da húmida transpiração, do corpo que protesta do intenso calor… da mente que, inconscientemente, anseia por um novo Inverno. Saudades, por fim, do Inverno que ainda não passou, pois sem ele o verão nada significaria. O Inverno é um estado meteorológico, mas o verão… o verão é quem nós somos. Eu sou o Verão.

2 comentários:

  1. saudades das sereias de óculos de mergulho, que tanto admiram o fundo do mar, ao mergulharem numa carícia de água quente ou morna, impossível em qualquer outra altura. É como se cada submersão fosse sempre a primeira: o primeiro fascinio, o primeiro arregalar dos olhos, o primeiro suster da respiração. Nunca é conhecido é sempre surpreendente.
    Saudades de quando era criança han? ;D escreves lindamente

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  2. saudades das nossas teorias e/ou longas conversas sobre o tudo e sore o nada =)
    by:Di

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