sexta-feira, 15 de julho de 2011

Não sei como quero ser quando for grande.

Pergunto-me o que estará ela a pensar agora, enquanto lava a loiça furiosamente. Suponho que se esteja a pôr no papel de eterna vítima, como sempre. Até consigo imaginar o monólogo interior: "Toda a gente me odeia, todos me fazem sofrer, ninguém me ouve, ninguém me ajuda ...". E eu pergunto-te, avó, mas como? Como te poderia eu ajudar se tu não queres ser ajudada? Se mesmo sabendo que as tuas costas não aguentam, continuas a carregar com pesos e a aspirar o chão? Se te pões contantemente no papel de mártir, fazendo sacrifícios tais pelos outros que eles não te pedem, porque não querem que tu os faças por eles? Se és tu própria que te fazes sofrer, pois é uma maneira de sentires que és melhor do que as outras pessoas, pois sacrificas-te por elas de uma forma tão ridícula, exagerada e subserviente, que depois elas fazem de ti o que querem e dão-te punhaladas nas costas?
Depois das discussões és rancorosa. Continuas a resmungar e a gritar e a falar mal com toda a gente. A culpa é sempre de todos e nunca tua, e sempre particularmente de alguém, O Escolhido da tua raiva. Hoje, a escolhida fui eu...
Eu percebo que estejas exausta das arrumações. Quem não estaria? Mas se tivesses calma poupavas a ti própria e aos outros um grande frete. Às vezes tornas-te mesmo má, parece que fazes pagar aos outros aquilo que te acontece depois dos esforços sobrehumanos que fazes sem ninguém to pedir. Parece que carregas uma cruz às costas que é o teu calvário, e que todas as outras pessoas no mundo são os "romanos" que ta puseram nos ombros. Isso é ridículo!!! Estás tão preocupada com a tua miséria fatídica, a tua infelicidade crónica, que nem consegues valorizar os actos e os gestos das pessoas que te amam. Tomas tudo na defensiva. E eu estou farta. Farta, porque simplesmente não sou capaz de lidar com essa tua personalidade distorcida. Desfiguras tudo, distorces tudo, fazes-me sentir má por erros inocentes que cometo sem intenção.

Não sei como quero ser quando for grande, mas com certeza não quero ser como tu.

2 comentários:

  1. É com os nossos erros que nós aprendemos mais; mas se tivermos atentos também aprendemos muito com os erros dos outros.
    Quanto ao saber o que queres ser quando fores grande não te preocupes que eu também não sei ( tenho 45anos...). Sé tu mesmo em cada dia e se poderes sé melhor do que tu mesmo ,no dia segunite Beijinhos Natália Encarnaçao

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  2. Eu sei que tu sabes, como queres ser quando fores grande. É que tu já és GRANDE!!!
    Parece-me que me leio quando tinha a tua idade e, parece-me ler as minhas filhas. Ainda que não te sirva de consolação, o que sentes não é diferente do que sentem outros tantos seres que por cá vão passando.Isto para te lembrar que o mundo, na sua perfeição contém imperfeições. Que os episódios negativos nos podem servir para enfatizarmos os positivos. A história do reverso da medalha (e a tua tem um bom verso, afinal). Tu és inteligente (muito), atenta, observadora,e tens maturidade suficiente para, nestes momentos (chatos), encontrares a forma de os minimizar.
    Beijos grandes de mais um ser que apareceu na tua vida para te "chatear".

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